terça-feira, 31 de janeiro de 2012

2 espaços vazios


Às vezes na piscina, com dois copos vazios ao meu lado, fico surpreso com a lembrança dos meus melhores amigos e com a falta de pronunciar seus nomes. Uma prostituta atravessa a porta do banheiro, seu corpo molhado e nu me conforta. Lembro da voz afetada saindo de sua boca bêbada, cuspindo em meu rosto o cheiro de saudade. Ontem à noite menti, “eu te amo” (até que chegue a-manhã), blefe! blefei por três vezes. Ainda amava aquela desconhecida. Pão assado com ovos mexidos e para beber, bananada, tudo que a puta sabia fazer. O cheiro era bom. Na primeira mordida sinto gosto de cinzas. Leve o que ainda resta em minha carteira e pague o táxi de volta para zona.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

estacione, por favor


– Quem é o dono do carro?
 Sou eu, galega. Algum problema?
 Desculpe, ele está interrompendo a entrada.
 Pensei que esta casa estivesse abandonada.
 Pois é, senhor, aí moram pessoas.
 Vou estacionar na outra rua.
 Por favor.

Alice força a porta do casarão até arrebentar o cadeado. Na parede da ante-sala escreve com carvão negro, “País das Maravilhas”. Da bolsa de pano retira a garrafa térmica cor de rosa. O aroma de camomila ressecada a faz sentir saudade de um tempo que nunca viveu. O chá esfria no copo de plástico, enquanto Alice apronta mais uma dose de crack.



terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Amantes


Nós nos apaixonamos esta semana. Morando em Bangladesh, nossos pilares ficaram distantes. Família, amigos, idioma, tudo, sem pressa, sendo esquecido numa nova rotina. Nós nos tornamos o obelisco um do outro. Só entre nós. Até que tudo se perde, e a feiura de ambos se revela. Acabamos como dois estranhos, longe de tudo que conhecemos. Duas incógnitas dentro de um apartamento pálido.